segunda-feira, 26 de junho de 2017

ORAÇÃO DE JOELHOS: porque e quando ajoelhar-se?


Porque os cristãos se ajoelham? Você já se fez esta pergunta? Há razões mais específicas pelas quais devemos nos colocar de joelhos? Ou será que todas as orações deveriam ser feitas de joelhos? Seria hipocrisia orar de joelhos? O que a Bíblia diz sobre isso?
Nesta porção de Paulo aos Efésios, o mesmo comenta sobre sua própria experiência nos ajudando a entender pelo menos um bom motivo pelo qual se por de joelhos. 
Muitas outras religiões mantêm essa prática. Muitos, como os muçulmanos, entendem que todas as orações devem ser feitas de joelhos. Não querendo entrar no mérito do porque as outras religiões encontram razões para colocarem-se de joelhos perantes seus deuses, vejamos razões bem claras pelas quais devemos nos colocar diante de nosso Deus.

Por esta causa, me ponho de joelhos diante do Pai, de quem toma o nome toda família, tanto no céu como sobre a terra, para que, segundo a riqueza da sua glória, vos conceda que sejais fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no homem interior; e, assim, habite Cristo no vosso coração, pela fé, estando vós arraigados e alicerçados em amor, 

Ef 3.14–17

Sim, há uma razão especial pela qual devemos nos por de joelhos diante de Deus-Pai. Poucas são as vezes em que Paulo afirma que fará tal coisa. Orar é sempre um ato de intimidade entre o cristão e a Santíssima Trindade. Mas, o pôr-se de joelhos sempre teve uma razão específica e especial por detrás de tal atitude.
Não é comum vermos as pessoas ajoelhando-se para falar com Deus. A orações eram feitas de muitas maneiras no tempo bíblico. No entanto, quando se fala que uma pessoa se pôs de joelhos para orar, sempre alguma razão especial está atrelada a isso.

Por esta causa, me ponho de joelhos diante do Pai

Obviamente, Paulo não estava de joelhos no momento exato em que escrevia estas palavras. Trata-se apenas de uma figura simples relacionada à mais sincera oração.
Paulo não estava preocupado com sua vida, com seus problemas. Sua preocupação estava ligada aos efésios. É por eles que Paulo se ajoelhou. Ele se ajoelha “diante do Pai”, para quem dirige sincera  e amorosamente sua oração.⁠1
Pense por um momento neste fato. Paulo, em nenhuma de suas epístola diz que se ajoelha por si mesmo, mas sempre por outras pessoas. Será que o Espírito Santo não deseja nos ensinar algo com isso? Será que não deveríamos nós também nos ajoelharmos quando estivermos clamando pela vida de outra pessoa?
Como veremos abaixo, não foi apenas Paulo que fez isso. Muitos outros antes dele também se colocaram de joelhos para pedir por outros. Vejamos:

Vinde, adoremos e prostremo-nos; ajoelhemos diante do SENHOR, que nos criou. Ele é o nosso Deus, e nós, povo do seu pasto e ovelhas de sua mão. Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o coração, como em Meribá, como no dia de Massá, no deserto,
Sl 95.6–8.

Neste texto, o povo é convidado a orar suplicando por forças para que não voltem a cair no mesmo pecado que seus antepassados um dia caíram. Eles se põe de joelhos para clamar a Deus que os ajudasse a não terem o mesmo coração duro que seus pais tiveram nos tempos do deserto.
Não havia uma preocupação individual. O foco é no coletivo. Eles se prostrariam, se ajoelhariam, para pedir uns pelos outros, uns pelas vidas dos outros. O foco não estava no que era particular, mas no que estava relacionado à vida dos outros.
Outro texto que vemos é este:

E, quando chegaram para junto da multidão, aproximou-se dele um homem, que se ajoelhou e disse: Senhor, compadece-te de meu filho, porque é lunático e sofre muito; pois muitas vezes cai no fogo e outras muitas, na água.
Mt 17.14–15.

Neste texto, temos um homem se pondo de joelhos para pedir pela vida de seus filho. Seu filho tinha problemas aparentemente mentais, os quais, todavia, se revelaram como fruto de possessão demoníaca. O foco do texto, no entanto, não é o problema do filho, mas a atitude do pai. Ele foi até Jesus e, diante dele, ajoelhou-se para pedir por outro.
Aqui também o foco não é pedir por si. O foco daquele que procurou Jesus e se ajoelhou diante dele era outra pessoa. Um pai clamando socorro e libertação por seu filho. Um pai de joelhos clamando pela salvação de seu filho.
Outro texto é este:

Porque Salomão tinha feito uma tribuna de bronze, de cinco côvados de comprimento, cinco de largura e três de altura, e a pusera no meio do pátio; pôs-se em pé sobre ela, ajoelhou-se em presença de toda a congregação de Israel, estendeu as mãos para o céu e disse: Ó SENHOR, Deus de Israel, não há Deus como tu, nos céus e na terra, como tu que guardas a aliança e a misericórdia a teus servos que de todo o coração andam diante de ti … Ouve, pois, a súplica do teu servo e do teu povo de Israel, quando orarem neste lugar; ouve do lugar da tua habitação, dos céus; ouve e perdoa.
2Cr 6.13–14, 21

Neste texto, o rei Salomão se ajoelha para orar pelo povo. Após algumas palavras de adoração, Salomão intercede pelo povo, para que todas as orações que eles fizessem naquele lugar fossem ouvidas e atendidas pelo Senhor. Ele não pede por si, mas pelo povo, para que não só fossem ouvidas suas oração, mas também para que seus pecados fossem perdoados quando ali confessados.
Outra vez, o foco de quem ora não está em si mesmo, mas em outras pessoas que estão ao seu redor. Outros estão em sua mente quando seus joelhos tocam o chão.
Não lhe parece curioso este fato? São apenas alguns episódios bíblicos. Em todos eles, quem se ajoelha o faz para pedir pelo outro. Seria errado se ajoelhar para pedir por si mesmo? Qual seria a forma de orarmos por nós mesmo?
Na verdade, não há nada de errado em ajoelhar-se para orar por si mesmo. O ponto não é este, mas apenas destacar que, quando homens de Deus se ajoelhavam não era apenas para pedir pelos seus próprios  problemas, mas também pelos outros.
Normalmente, nos ajoelhamos com o objetivo de clamar por uma situação que nos saiu do controle, um pecado que cometemos, uma viagem que faremos, etc. O foco está sempre em nós mesmos. Aqui, com Paulo e todos estes demais textos, aprendemos que nossas orações de joelhos não devem ter apenas nossos pedidos como o centro da oração. É saudável que também nos ajoelhemos a fim de orar apenas pelos outros.

de quem toma o nome toda família, tanto no céu como sobre a terra,

O verso 15 nos apresenta outro fato maravilhoso. Assim como um pai dá um nome para um filho e para uma família, Deus dá um nome para todos que formam sua família, tanto no céu quanto na terra. 
Dar um nome equivale-se a dar um título.⁠2 Você o leva para onde for e todos o reconhecerão por este nome. Não apenas lhe chamarão por ele, mas também lhe honrarão.
Deus nos dá a honra de seus seus filhos e filhas e de levarmos o seu nome em nossas vidas. Como filhos amados, recebemos dEle esta graça.
Paulo aqui faz uma brincadeira com as palavras. No final do verso anterior, ele citou o πατέρα de quem toda a πατριὰ toma o nome. Pater e Patria, pai e família. Nesta brincadeira, Paulo reforça a identidade do nome entre a família com seu Pai.⁠3

para que, segundo a riqueza da sua glória, vos conceda que sejais fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no homem interior; e, assim, habite Cristo no vosso coração, pela fé, estando vós arraigados e alicerçados em amor, 

No verso 16, Paulo nos recorda que Deus nos dá poder no homem interior. Este poder é o que nos capacita a agirmos com maturidade diante de todas as situações da vida. Não há nada impossível para quem caminha cheio desse poder. Tudo podemos naquele que nos fortalece.
É segundo a riqueza de sua glória que ele nos enche de graça e de poder. É por esta graça que Ele nos faz fortes. É por esta graça que cegos veem e fracos são capazes de lutar contra o impossível. É por esta graça que você e eu não temos motivos para desistir nunca e em nenhum momento de nossas vidas quando estivermos diante de tribulações e angústias.
No verso 17, Paulo trata de uma verdade muito cara aos cristãos: “habite Cristo no vosso coração”. Todos amamos esta expressão. Ensinar a crianças e adultos sobre Cristo estar presente em nossos corações é tão precioso.
No entanto, o que Paulo está fazendo aqui é ligar a riqueza de sua glória ao habitar de Cristo em nossos corações.
Pela fé (que é um dom de Deus, segundo informações reveladas nesta mesma Epístola) é que recebemos a Cristo em nossos corações e assim passamos a estar estabelecidos e firmemente arraigados em Cristo. O poder de Deus faz com que Cristo habite no coração. O poder de Deus é o que faz com que esta habitação seja indestrutível e eterna. Até quando ele habitará em nossos corações? Até que entremos definitivamente em sua presença no novo céu e nova terra. Lá, então, não se fará mais necessária esta atual e interna habitação. Na verdade, lá seremos nós que habitaremos nele, conforme nos aponta o livro de Apocalipse.

Algo interessante a ser notado aqui também é o destaque à ação da Trindade em todo o processo. “Pai… Espírito… Filho”. No verso 14, a pessoa do Pai é mencionada. No verso 16, a pessoa do Espírito Santo é mencionada. E, no verso 17, a pessoa de Cristo é mencionada. Se separássemos tudo o que está no meio, as palavras de Paulo nesta porção ficariam assim:

“Me ponho de joelhos diante do Pai,… para sejais fortalecidos mediante o seu Espírito,… e, assim, habite Cristo em vosso coração”.

Note que o Pai é quem recebe a oração que fazemos ajoelhados. Quem opera na resposta a nosso pedido é o Espírito. É Ele quem opera em nós no tempo da igreja. É pela obra do Espírito segundo a vontade do Pai que o Filho habita em nossos corações fazendo com que conheçamos e experimentemos “a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade⁠4” do amor de Cristo, conforme veremos no comentário dos versos seguintes.

Assim, não nos esqueçamos de que a presença de Cristo em nossos corações é o que nos fortalece, que o Espírito Santo continua operando no coração de homens e mulheres segundo a vontade do Pai. E, acima de tudo, não nos esqueçamos de quão importante é nos colocarmos de joelhos para clamar pela vida das pessoas a quem amamos e desejamos livramentos, curas e, principalmente, salvação.